31 julho 2008

Partes da minha história (9)

O último Primeiro de Janeiro


Mais do que o fecho de um jornal centenário, histórico, o último representante de um porto pujante, quero aqui apenas denunciar a tragédia humana que representa para dezenas de pessoas. Bons amigos que lá tenho, outros que nem conheço mas sei partilharem esta paixão pelo jornalismo que fazia com que aquela casa sempre tivesse uma massa humana digna e trabalhadora.
Porta de entrada para o mundo do trabalho, resta apenas a porta de saída para todos aqueles que tiveram o azar de apanhar os últimos dias de um título moribundo há muito, mas que nem assim deixava de ter uma importância capital no cenário da imprensa nacional. É que a voz do Porto está cada vez mais abafada e, com ela, as suas gentes finalmente domadas após anos de lutas heróicas. A invicta perdeu! Derrotada pela economia, atraiçoada pelo poder, enganada pelo Terreiro do Paço!
Depois de tantos dias a abafar os acontecimentos que despoletaram a sua extinção, o país acordará amanhã com mais esta bomba. O «Primeiro de Janeiro» fechou! Esperado, pensam alguns. Revoltante, direi eu.
Os «opinion makers» deste país virão dizer que tal não pode acontecer, as «forças vivas» do Norte garantir que tal não acontecerá.
Mentira!
Como o seu defunto irmão portuense, restará apenas a memória em forma de rua. Difícil será explicar aos vindouros porque é que no meu currículo constam dois jornais que já não existem.
A ironia é que quando finalmente alguém reparou que havia uma empresa "esquisita" no mercado, esta acabou por fechar e, como tantas vezes neste país, quem se lixou foi o trabalhador.
Acreditem que é com lágrimas nos olhos que escrevo estas palavras. Não só pelos dias maravilhosos que lá passei e que mudaram a minha vida para sempre, mas pelo que representa o seu fim para todos os amigos que lá estavam.
O futuro vai ser melhor. Pensem que foi realmente um mal que veio por bem. Força! Acreditem e lutem!
Pelos vossos empregos, mas também pela nossa cidade e pela nossa região.
Good night and good Luck!

Um comentário:

Carla Teixeira disse...

Se escreveste este texto de lágrimas nos olhos, eu li-o com a pele eriçada por arrepios de frio. É verdade, de facto, que daquela porta para dentro, aquela onde uma réstia de esperança levou alguém a pixar um "hope" em tons de rosa, está grande parte das nossas vidas, tristezas e alegrias, amigos e colegas, momentos. O fim chegou, mas a memória do «Janeiro» há-de sempre perpetuar-se em nós, como um ente querido morto a tiro numa qualquer madrugada. Obrigada por estares também do nosso lado.