08 outubro 2008

25 de Abril no mundo?

Jerónimo de Sousa defendeu ontem a intervenção do Estado «por aquisição ou nacionalização, dos sectores estratégicos». à primeira vista pensei: lá estão eles a aproveitar a crise para defender as ideias do costume.
Mas se pensarmos melhor, talvez seja mesmo a altura de ouvir novas doutrinas pois o capitalismo, enquanto o conhecemos, está caduco.
Talvez não as ideias de regresso ao modelo socialista (esse caducou de vez), mas às da esquerda mais moderada e apostar num meio termo. Eu sou em tudo um adepto do meio termo e a verdade é que os tempos do «laissez faire, laissez passer» deram no que deram. Isto é como deixar uma criança crescer sem regras e se ela só fizer o que quer certamente não terá um crescimento saudável. É preciso regras e imposições porque a gula dos muito ricos é insaciável.
Aliás o problema é a gula do sistema bolsista pois o patrão, por muito déspota que seja, continua a ser humano. O mal é a exigência trimestral de lucros para os accionistas, esse patrão invisível que exige mais lucros sobre aqueles já gigantescos.
Para que é que a EDP há de investir como empresa para crescer desmesuradamente se a sua função deveria ser fornecer electricidade ao país? Se têm lucros desçam os preços.
O comunismo não funcionou pois era romântico, utópico, uma teoria perfeita aplicado a um ser humano imperfeito. E este capitalismo que confia no bom senso de especuladores bolsistas e predadores financeiros? Realista não é com certeza!
Eu agora ando numa fase de saudosismo dos anos 70, de coisas que não vivi sequer porque era criança, mas havia uma certa paz de espírito que não há hoje. As baterias estavam apontadas para causas muito específicas como a liberdade e a mercearia do Manel das hortas não estava dependente das notícias da televisão. Hoje ligo o telejornal e no dia seguinte sinto no bolso as alterações da economia.
Tenho saudades do analógico em que a relação causa-efeito era tão simples como carregar num botão e pimba! Hoje estamos na era digital em tudo, até a economia é uma equação em que o carregar de um botão origina um efeito surpresa. A nova Teoria do Caos não será agora "se um banco investir mal o dinheiro na Califórnia pode causar um terramoto na China"?

Um comentário:

Pedro Emanuel Santos disse...

Grande texto, parabéns! Deixa só lançar-te um desafio: não achas um paradoxo que a economia de mercado, que sempre funcionou com a mínima intervenção do Estado, esteja agora a ser salva por esse mesmo Estado através da injecção de milhões (seja de dólares, euros ou outra moeda qualquer) estatais em empresas privadas que, em caso de falência, levariam à ruína desse mesmo conceito de mercado livre? Eu acho é que estamos numa época de redefinições. Onde isto nos vai levar não sei, mas aguardo com ansiedade o desenrolar dos próximos capítulos.

Abraços