Um título à «Notícias» (agora também chamado título à «Janeiro») para chamar a atenção ao leitor para o conteúdo, pois o que está em causa é o poder do jornalista chamar a atenção para os problemas da sua classe.
E esta classe dos jornalistas, onde a maioria de nós se inclui, é realmente algo difícil de descrever. Senão vejamos:
Ainda ontem à porta do TIC apanharam na cara, foram insultados, arriscaram integridade física e material de trabalho e a polícia, em vez de impedir ou identificar pessoas com cara tapada que tentavam agredir os ditos jornalistas, se lembrou de dar voz de prisão a um repórter de imagem porque a câmara deste bateu na cabeça de um agente. Quando se tentaram refugiar no interior do tribunal, foram expulsos pelos seguranças. Esta imagem por si não é notícia?
No fim do dia as autoridades pediram ajuda às fotos dos profissionais para reconhecer os agressores, quando estes estiveram de caras tapadas à frente da polícia a tarde toda.
Reacções até agora? Nenhuma. Vamos a ver a posição do sindicato e a ver se a polícia assume a cagada que fez o dia todo ao tomar a posição dos agressores em detrimento dos que apenas trabalhavam.
Em segundo lugar temos um exemplo engraçado, uma empresa de comunicação social que despediu todos os seus trabalhadores, continuou a fazer o jornal com outros jornalistas (dizem que são) e depois de três ou quatro dias de notícias, nunca mais ninguém se preocupou, isto é, os colegas de profissão nunca mais se preocuparam. É que em causa própria os jornalistas têm sempre muita dificuldade em falar dos problemas da sua classe, extremando um dos seus "mandamentos" de nunca o próprio ser notícia. Veja-se o que aconteceu com o fim dos apoios à Caixa de Jornalistas em oposição aos protestos constantes por situações idênticas de alguns funcionários públicos e em especial dos militares. Mas a situação do «Janeiro» é ainda mais engraçada se nos lembrarmos que grande parte dos jornalistas despedidos estão a braços com as finanças por problemas causados pelas artimanhas de fuga ao fisco da empresa onde trabalhavam e o fisco, com celeridade incrível e grande eficácia, está já a obrigar os desgraçados sem emprego (e outros já com emprego mas desgraçados na mesma) a pagar o que deviam pois o Estado deve estar desesperado à espera desse dinheiro para poder dar aos Bancos e Seguradoras, esses sim merecedores do perdão público.
Depois temos a classe em si, um quarto poder que não é mais que um poder de quarto, quarto esse ocupado pelos donos das empresas que decidem a seu belprazer quem atacar e quem defender e recusam aos peões que para si trabalham qualquer direito reivindicativo através do mediatismo da sua publicação.
Uma merda com carteira profissional, mal pago, por todos pressionado, por ninguém defendido, que se acha uma peça importante na sociedade mas que está no fundo da cadeia alimentar e que por todos os outros é chupado, cuspido e até desossado. Assim é o jornalista hoje em dia!
E uma Ordem de Jornalistas, não poderia resolver o problema?
Os outros poderes (os que realmente o são) regem-se e controlam-se a si próprios, que independência e que liberdade pode haver quando a regulação vem de outrem?
As nossas entidades empregadoras não nos defendem, bem pelo contrário. Temos que tomar consciência de classe e lutar por nós. Veja-se as dezenas de milhar de professores na rua. Somos poucos mas temos colegas em posição chave. Temos que criar espírito de classe e união. À luta camaradas!
18 novembro 2008
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3 comentários:
Bravo! Aplaudo de pé e subscrevo tudo sem excepção. Aliás, há muito que defendo a criação da Ordem. Mas chamam-me tolo.
Brilhante! Este teu texto é de arrepiar. Obrigada, em nome dessa classe que queríamos nossa, mas que teima em aparecer.
Beijinhos
Era "desaparecer"...
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